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LISBOA
A ideia da saída de Portugal e da Grécia da zona Euro já tem sido discutida e debatida várias vezes ao longo dos últimos meses. As notícias recentes voltaram a falar no assunto e repetem a opinião de George Soros, conhecido e controverso especulador de transacções monetárias, e acérrimo defensor de ideias liberais.
O que tenho notado é que esta ideia da saída da Grécia, mas falemos agora de Portugal, da zona Euro tem sido defendida por especuladores internacionais mais do que por governantes mundiais, ao mesmo tempo que negam qualquer interesse especulativo. Pode ser verdade, mas duvido. Eu tenho a minha opinião sobre o assunto, mas de momento não a vou defender. Vou apenas focar alguns pontos que acho importantes. Primeiro que tudo é preciso tomar em conta os interesses de cada entidade envolvida no tema. Acho que é perfeitamente viável que, não muito veladamente, os EUA não tenham grande interesse na força do Euro nem na unidade da Europa. Por outro lado, e por razões opostas às dos EUA, é de acreditar que a China tenha grande interesse em preservar o Euro e a Europa unida. E como já mencionei, os especuladores em transações monetárias, como o controverso George Soros, querem que Portugal saia do Euro. E Portugal? O que deve fazer? E nós os cidadãos? O que queremos? Acho por bem mencionar aqui alguns dos possíveis mas previsíveis efeitos de uma nossa saída do Euro. É também previsível que se sairmos do Euro será para desvalorizar a moeda. Se o leitor achar que essa saída seria para valorizar a moeda, então pode parar aqui e não ler o resto do que vou escrever. Somos um país de importações. Medidas feitas em Euros, importamos duas vezes mais do que exportamos, e este ponto é importante. Vamos imaginar que Portugal sairia do Euro, que hoje tem o valor de $200,00, e desvalorizaria a moeda para $300,00 por cada Euro. Uma desvalorização de 50%. Isto quer dizer que: 1.) os salários ficariam congelados à taxa actual de $200,00/€, 2.) as importações seriam feitas ao novo câmbio de $300,00/€, 3.) as exportações também, a $300,00/€, 4.) o poder de compra do cidadão cairia para 2/3 do actual, 5.) as importações pagariam 50% mais por cada Euro de mercadoria, 6.) a vida custaria 50% mais, com salários já a 2/3 do poder de compra anterior, 7.) os exportadores, metade do que se importa, 7.1) continuariam a pagar ao funcionário a $200,00/€, 7.2) e a vender o produto desse trabalho a $300,00/€, 8.) o país teria de angariar mais 1/3 em impostos para pagar a dívida que foi contratada quando o Euro estava (está) a $200,00/€. A solução estaria em aumentar imediatamente a nossa produção fabril e as nossas exportações na ordem dos... nem me atrevo a calcular, mas a um factor que acho pertencer ao mundo da fantasia. Mas, sugiro, não vão pelas minhas contas, façam as contas, verifiquem o raciocínio, apliquem a taxa de câmbio que acharem mais apropriada, seja ela 25%, 50%, ou outro valor. E depois perguntem, como eu tenho feito: Quem é que sairia a ganhar? Se realmente faz sentido a Grécia, mas no nosso caso, a Portugal, sair da zona Euro, preciso que alguém me explique as razões, porque há aqui qualquer coisa que não bate certo. Fernando Aidos
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De certo, pelo que as pessoas me dizem, e pelo que eu observo, o conteúdo das notícias diárias tem-nos perturbado a todos. Se reparamos bem, as notícias todos os dias dizem-nos que não vamos ter comida que chegue para todos porque a população do mundo cresce sem indícios de parar, que o custo dos transportes vai subir porque estamos a gastar mais petróleo do que a terra jamais nos poderá continuar a fornecer, que os nossos empregos estão em risco porque alguém não soube gerir as contas, ou porque a concorrência estrangeira é impossível de parar, ou por qualquer outro motivo grave. E assim, sem darmos por isso, estamos em crise. Nesta ou noutra qualquer. Nenhuma destas notícias são falsas, assim acreditamos, embora pensemos que não dizem tudo, mas, se pararmos um pouco para pensar, será que estas notícias são sobre tudo o que há na vida? Ou, por outras palavras, será que a vida se cinge a medo, crises, e futuros incertos? Não há mais nada na vida? Alguns de nós diremos que há, depois da morte, e por isso temos de acreditar num Ser Supremo. Então vou refazer a minha pergunta acima: será que a vida se cinge a medo, crises, futuros incertos e depois a morte? É isso a vida? Pirâmide de Maslow Os que estudam o comportamento do ser humano dizem que não é assim. Que há mais. Que acima das nossas necessidades relacionadas com a nossa fisiologia e a nossa segurança, fome, frio, sexo, saúde e medo, há também necessidades de relacionamento como amizade e intimidade. E que acima dessas existem necessidades de auto-estima, de auto-confiança, de respeito próprio e pelos outros, e acima destas há ainda a necessidade de moralidade, de criatividade, de realização pessoal, de espontaneidade. E que se estas necessidades não forem satisfeitas, não seremos seres humanos completos, porque parte de nós não estará satisfeita. Isto é, não seremos felizes.
Mais ainda dizem os estudiosos, que estas necessidades são hierarquias. Sem a fome e a sede satisfeitas, não nos preocupamos com a amizade ou a intimidade, e nem tão pouco com a auto-estima, respeito mútuo ou a criatividade necessária para melhorarmos a nossa condição na vida. Um dos modelos mais divulgados desta sequência de necessidades é o da Pirâmide de Maslow (imagem acima). Será então que nós, os portugueses, seremos tão entristecidos e preocupados com a vida, como consta dos relatórios e pesquisas que circulam, ao ponto de não sermos felizes, porque não temos as necessidades primárias satisfeitas e sendo assim não nos preocupamos com coisas que nos poderão levar a uma vida mais plena? Acho que sim. Vêm a propósito os apelos dos nossos dirigentes para mais horas de trabalho, mais produtividade, mais criatividade e mais empreendorismo, enquanto ao mesmo tempo se reduzem os serviços relacionados com as nossas necessidades fisiológicas (acesso a serviços de saúde, alimentos mais caros, água mais escassa ou mais cara) ou de segurança pessoal e dos nossos queridos, segurança no emprego, nas escolas e nas estradas, com ou sem a ajuda de todos os telemóveis ou GPS (e até armas) que queiramos comprar. Mas que somos incitados a comprar para sermos gente, para sermos cool. Mas não felizes... Durante décadas que a humanidade se debateu, por razões que a história bem documenta, por estas necessidades básicas e terá de continuar a debater-se para evitar que haja erosão das condições conseguidas. Mas é hora de nos preocuparmos, de verbalizarmos e de exigir as condições necessárias para que as nossas necessidades mais elevadas sejam também satisfeitas. Para que sejamos felizes! Com ou sem os tais aparelhos da moda. É necessário elevar os nossos objectivos como cidadãos a um nível acima do que temos praticado para que, com os olhos postos no topo da pirâmide de Maslow possamos gozar de uma vida cheia a todos os níveis. É necessário incluir nas campanhas políticas, nas exigências partidárias, no léxico do nosso dia-a-dia, na legislação que nos rege, conceitos de moralidade, auto-estima, respeito mútuo, confiança, como já foi feito com a Carta Internacional dos Direitos Humanos, e exigir que os serviços públicos e privados preencham as necessidades básicas para que nós os cidadãos possamos elevar-nos e possamos entrar nessa esfera da criatividade e do empreendorismo de que tanto precisamos, não só para a economia, mas para vivermos, para sermos felizes. Fernando Aidos |